quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Obras: "Obra-Aberta" - uma instalação multimídia (2003)

Instalação multimídia desenvolvida por mim em 2003








Considerações conceituais
É possível observar neste século, algumas mudanças fundamentais na linguagem artística provida pela ruptura desenvolvida na arte moderna e uma das principais características da arte contemporânea é a abertura da obra de arte à plena percepção e interação com o espectador.

Obra Aberta” é uma instalação multimídia cujo título além de significar a diversidade de interpretações possíveis na percepção de uma obra como propôs Umberto Eco (1991:39), serve de referência ao processo participativo do espectador na obra contemporânea, do tipo instalação, que propõem múltiplas vivências perceptivas.

A idéia determinou a composição de uma obra que discutisse as relações na obra de arte entre o exterior e o interior, a representação e a apresentação, a fruição e a participação, assinalando a instalação como expressão final do conceito de abertura da obra de arte. Na instalação, o espaço não é ilusório e, ao ocupar esse espaço, o espectador passa a integrá-lo e a compor a obra, rompendo a concepção histórica de “obra fechada”, que mantém o espectador do lado de fora e confirma sua condição de mero observador.

As relações entre o dentro e o fora e vice e versa, foram historicamente mediadas por janelas, que na arte foram demarcadas pelas molduras. A instalação foi pensada a partir dessas janelas, apresentando, primeiramente, a moldura como janela, mas, também, a tela de televisão como janela e, ainda, a própria janela. Todavia, como obra aberta, a instalação em si mostra molduras e janelas, mas não se faz moldura ou janela, permitindo e requerendo que o espectador negue essa condição e adentre o espaço. Na instalação, o espaço não é ilusório e, ao ocupar esse espaço, o espectador passa a integrá-lo e a compor a obra, rompendo a concepção histórica de “obra fechada”, que mantém o espectador do lado de fora e confirma sua condição de mero observador.

A instalação se mostra, em parte, como instalação multimidia, porque atualiza o conceito de representação na mídia eletrônica. Pela televisão, o espectador se vê no centro da obra e também parte dos ambientes interno e externo. Além disso, é visto pelo restante do público através da moldura instalada na frente do espaço ocupado por ele. A metáfora da janela entre o real e o virtual é exaustivamente explorada. Isso constitui um campo caótico sobre o que é obra e quem é o espectador. Quem está dentro do espaço da instalação vê as imagens de fora entre molduras: quadro, televisão, janela. Além disso, será visto por quem estiver fora da instalação, também, através de molduras e janelas.



Considerações técnicas
A instalação foi planejada para acontecer em um espaço comum, já que esta forma de expressão, aberta e relacional, não requer lugares tradicionais como museus e galerias, são mais pertinentes no ambiente social do cotidiano, seja por razões quantitativas, como o número de interações possíveis, quanto por motivos qualitativos, como a variedade, riqueza e natureza destas interações.

Esse ambiente foi revestido de plástico branco, sobre uma estrutura de madeira que sustenta as televisões e câmeras instaladas no seu interior. Essa estrutura é recortada para compor uma janela ao fundo, em oposição à entrada, onde também foi posicionada uma moldura tradicional.

Esse ambiente permite o acesso e a inclusão do espectador, servindo como um eventual habitat para o corpo; além de oferecer uma multiplicidade de estímulos através de hibridização de materiais como plástico, lâmpadas, espelho, areia, madeira e equipamentos eletrônicos. No interior da caixa existem 3 televisores distribuídos nas laterais, que estão conectados a 3 câmeras filmadoras que estarão fixadas em pontos estratégicos para o registro de imagens ao vivo do interior e exterior da instalação; há também, uma moldura vazia pendurada na entrada da caixa e o solo é recoberto por areia. A iluminação é intensa, garantida por luz branca.

O ambiente de instalação, que envolve o corpo do visitante, é manipulado para se tornar um espaço de experiências estéticas, cujo participante é obrigado a ver a si próprio como parte da situação criada, o conceito de espaço se integra ao conceito de trabalho. É exigida a participação direta do espectador na exploração do espaço da sala pelo deslocamento do corpo entre os dispositivos, numa espécie de presença cênica, ele é um espectador/ator que explora fisicamente a obra, devendo deslocar-se entre as imagens, entre os objetos, dentro do espaço a sua maneira.
O espectador não só percebe, mas está condicionado à situação de sujeito, cuja escolha irá determinar outras circunstâncias perceptivas e imaginárias.


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